ESTRELAS EM GREVE
(João A. Carrascoza)
Todas as noites, as mulheres se punham diante da televisão para ver as novelas. Os
homens cochilavam no sofá e a criançada brincava com os computadores. Ninguém tinha
tempo de olhar para o céu.
(João A. Carrascoza)
Todas as noites, as mulheres se punham diante da televisão para ver as novelas. Os
homens cochilavam no sofá e a criançada brincava com os computadores. Ninguém tinha
tempo de olhar para o céu.
Sem plateia, as estrelas decidiram entrar em greve por tempo indeterminado. A
Lua, solidária com as amigas, aderiu ao protesto e também se escondeu.
Foi um fuzuê no mundo inteiro. As galinhas, que dormiam com a estrela-d'alva,
perderam o sono e deixaram de botar ovos. As corujas pararam de piar. Os tatus não
saíram mais das tocas. Os grilos silenciaram. Os anjos da guarda, que desciam à noitinha
para ninar as crianças, perdiam-se no caminho. As damas da noite não abriram mais suas
pétalas. No escuro, o vento não enxergava nada e não sabia para onde soprar. Os poetas
caíram em desânimo e a produção de poesia imediatamente cessou. Os agricultores
ignoravam se era ou não a época certa para semear. As marés, desorientadas, subiam e
desciam à deriva.
Então, os homens descobriram que aquilo tinha a ver com o sumiço das estrelas.
Chamaram os melhores astrônomos, mas eles não souberam explicar o ocorrido.
Convocaram as feiticeiras para resolver o assunto, elas fizeram lá suas mandingas, mas
não adiantou nada. Estava tudo um caos.
Até que, numa noite, um homem saiu de casa e se pôs a contemplar o céu na
escuridão. Lembrou-se de que a mãe lhe ensinara a posição do Cruzeiro do Sul. Outro se
juntou a ele e recordou as histórias de Lua cheia, quando aparecia o lobisomem. Um velho
ouviu a conversa dos dois e veio contar que, quando criança, tinha visto o Cometa Halley.
Apareceu uma mulher e comentou que só cortava os cabelos na Lua minguante. Outra
mulher falou que, havia alguns anos, vira uma estrela cadente e fizera um pedido. O
marido ouviu-a e disse que o pedido era ter o amor dele para sempre. Outro homem
contou que lhe nascera uma verruga no dedo porque, quando garoto, apontara para as
Três-Marias. Aos poucos, as pessoas foram saindo de suas casas e cada uma tinha sua
história para contar sobre a Lua e as estrelas.
Quando estavam todos na rua olhando o céu vazio, as estrelas, que os observavam
do fundo da noite, apareceram de surpresa, acendendo-se ao mesmo tempo. Foi lindo:
parecia uma chuva de gotas prateadas. Em seguida, despontou a Lua, com seu brilho
magnífico, como um holofote.
do fundo da noite, apareceram de surpresa, acendendo-se ao mesmo tempo. Foi lindo:
parecia uma chuva de gotas prateadas. Em seguida, despontou a Lua, com seu brilho
magnífico, como um holofote.
Então todos entenderam o motivo daquela greve. E, imediatamente, decidiram em
consenso: podiam ver televisão, dormir no sofá e brincar com o computador todas as
noites. Mas, de vez em quando, iriam dar uma espiadinha no céu para ver o show das
estrelas.
Revista Nova Escola, São Paulo: Abril, nov. 1997. nº 107. p. 30 e 31 (adaptação)
2 comentários:
a professora deu isso hoje
Nossa que lindo , eu já tinha lido esse poema mas me esqueci aí procurei ele no Google para ler ele de novo,é lindo!
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