terça-feira, 11 de outubro de 2011

Homenagem ao Trovador Solitário


Hoje fez 15 anos que o grande poeta Renato Russo se foi. Mas suas letras, sua revolta, sua harmonia e sua inteligência continuam vivas na memória dos fãs. Coloco aqui uma redação que o Trovador Solitário fez em sua época de escola.



CASA VELHA, EM RUÍNAS

Da distância em que estávamos, só era possível distinguir dentre o verde pedaços soltos de telhas já amarelas, que pareciam flutuar sobre a vegetação que cercara a casa.

Com dificuldade, tentamos nos aproximar mais alguns metros, mas as plantas daninhas que ali moravam pareciam ter vida própria e uma vontade de aprisionar com seus galhos e folhas tudo que se aproximasse delas.

Tentamos a foice, e a luta foi lenta e árdua, o verde resistindo aos golpes que cortavam sua vida, mas conseguimos.

Não havia mais porta: apenas uma placa de madeira inclinada na parede onde estava talhado o nome daquele engenho. Quase não havia parede, só tijolos que ainda sobreviviam, mas que, como o resto, cedo virariam pó.

A escuridão nos impedia de continuar. Tivemos de quebrar as telhas que ainda estavam penduradas no alto, para que fosse possível a entrada da luz do sol que não brilharia por mais tempo.

No chão de madeira as ervas já começavam a surgir. Não havia móveis ou qualquer objeto que indicasse ter havido gente morando naquela casa no passado.
Nem animais. Só o verde, intruso e vitorioso.

Em um dos quartos encontramos livros jogados no chão, uma cadeira, uma mesa e um copo de vidro quebrado. E também um retrato torto, pendurado na parede torta, cheirando a mofo e a pó, a única indicação do passado naquela casa.

O resto eram ruínas que, por contradição, não lembravam o passado e sim a decadência atual.

Começou a escurecer e tivemos de voltar.

E o verde, silencioso, seguiu em sua marcha lenta, para cima e para os lados, até fazer o velho engenho morto submergir de vez.


(Renato Manfredini Júnior)

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