sábado, 17 de janeiro de 2009

Meu guri





Estava faltando um espaço maior para ele no meu blog: Chico Buarque! Um grande gênio da MPB com letras que montam crônicas, críticas, desvendam a alma feminina... enfim, tantas qualidades da música desse gênio que seria impossível colocá-las todas aqui. Eu gosto de muitas e muitas músicas dele, mas hoje eu coloco uma que me chama muito a atenção: O meu guri.

O ponto de vista da música é de uma mãe e a sua narração em primeira pessoa nos mostra mais de perto o acompanhamento das fases do filho e o orgulho que essa mulher sente dele. Ao que aparenta, os dois moram em uma favela e o guri foi criado sem pai. A sua mãe sempre fez um grande esforço para tocar a vida pra frente como podia. O garoto tenta sempre agradá-la trazendo presentes para encabulá-la e, ao que parece, praticado assaltos para conseguir tudo isso.

Chico é um gênio ao mostrar no decorrer da música o orgulho que uma mãe sente por seu filho. Ela deposita nele sua confiança e sente muita vontade em vê-lo vencer na vida, típico de toda mãe bondosa.


O MEU GURI
Chico Buarque

Quando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
E eu não tinha nem nome pra lhe dar
Como fui levando, não sei lhe explicar
Fui assim levando ele a me levar
E na sua meninice ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí
Olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega

Chega suado e veloz do batente
E traz sempre um presente pra me encabular
Tanta corrente de ouro, seu moço
Que haja pescoço pra enfiar
Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro
Chave, caderneta, terço e patuá
Um lenço e uma penca de documentos
Pra finalmente eu me identificar, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega

Chega no morro com o carregamento
Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar cá no alto
Essa onda de assaltos tá um horror
Eu consolo ele, ele me consola
Boto ele no colo pra ele me ninar
De repente acordo, olho pro lado
E o danado já foi trabalhar, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega

Chega estampado, manchete, retrato
Com venda nos olhos, legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente, seu moço?
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato, acho que tá rindo
Acho que tá lindo de papo pro ar
Desde o começo, eu não disse, seu moço
Ele disse que chegava lá
Olha aí, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri

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