sábado, 31 de janeiro de 2009

Versos íntimos


Olá! O mês de janeiro está acabando e passou rápido. Aliás, por que temos essa sensação de que algumas coisas passam rápido e outras não? Será a quantidade de acontecimentos? Enfim, acho que um psicólogo pode me ajudar a responder isso.
Hoje trago poemas, algo que deixei um pouco esquecido no meu blog por conta de textos de reflexão e músicas. E nada mais agradável do que trazer um dos meus poetas favoritos: Augusto dos Anjos! A princípio, ele se assemelha um pouco a Baudelaire (já citado neste blog - clique aqui para ver), mas digamos que é muito difícil um enquadramento histórico-estético pois ele tem um quê de vários outros estilos, como naturalismo, parnasianismo, simbolismo, etc. Mas enfim, sua filosofia de dor e verdade, assim como sua linguagem agressiva, madura e niilista me agrada desde a primeira vez que li um poema seu. Abaixo, coloco três poemas desse intrigante poeta!
Abração a todos!


VERSOS ÍNTIMOS

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - essa pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


VÍTIMA DO DUALISMO

Ser miserável dentre os miseráveis
- Carrego em minhas células sombrias
Antagonismos irreconciliáveis
E as mais opostas idiossincrasias!

Muito mais cedo do que o imagináveis
Eis-vos, minha alma, enfim, dada às bravias
Cóleras dos dualismos implacáveis
E à gula negra das antinomias!

Psiquê biforme, o Céu e o Inferno absorvo...
Criação a um tempo escura e cor-de-rosa,
Feita dos mais variáveis elementos,

Ceva-se em minha carne, como um corvo,
A simultaneidade ultramonstruosa
De todos os contrastes famulentos!


AO LUAR

Quando, à noite, o Infinito se levanta
À luz do luar, pelos caminhos quedos
Minha táctil intensidade é tanta
Que eu sinto a alma do Cosmos nos meus dedos!

Quebro a custódia dos sentidos tredos
E a minha mão, dona, por fim, de quanta
Grandeza o Orbe estrangula em seus segredos,
Todas as coisas íntimas suplanta!

Penetro, agarro, ausculto, apreendo, invado,
Nos paroxismos da hiperestesia,
O Infinitésimo e o Indeterminado...

Transponho ousadamente o átomo rude
E, transmudado em rutilância fria,
Encho o Espaço com minha plenitude!


*Para ler mais poemas, veja Eu e outras poesias, de Augusto dos Anjos!

Um comentário:

Marcelo Ferreira disse...

Sempre gostei de Versos Íntimos. Lembra-me muito o tempo de "nível médio". Versos fortes e realistas beirando o "me ame ou me deixe, não sou obrigado a agradar todo mundo!"