quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Intertextualidade - Augusto dos Anjos



VANDALISMO
(Augusto dos Anjos)

Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.

Com os velhos Templários medievais
Entre um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desesperto dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!



BANDALHISMO
(Aldir Blanc)

Meu coração tem butiquins imundos,
Antros de ronda, vinte-e-um, purrinha,
Onde trêmulas mãos de vagabundo
Batucam samba-enredo na caixinha.

Perdigoto, cascata, tosse, escarro,
um choro soluçante que não para,
piada suja, bofetão na cara
e essa vontade de soltar um barro...

Como os pobres otários da Central
já vomitei sem lenço e sonrisal
o P.F. de rabada com agrião

Mais amarelo do que arroz-de-forno
voltei pro lar, e em plena dor-de-corno
quebrei o vídeo da televisão.



Comentário meu: Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu na cidade de Engenho de Pau d'Arco, na Paraíba, em 20 de abril de 1884. Era formado em Direito. Morreu de pneumonia em 1914 em Leopoldina, Minas Gerais. Durante sua vida, lecionou em João Pessoa e no Rio de Janeiro.

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