quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

"Olhos de cigana oblíqua e dissimulada"


E com este título introduzo o meu tópico de hoje neste humilde blog. Sem dúvida nenhuma, Dom Casmurro é o meu romance favorito de Machado de Assis. Alegra-me muito ao ver que a Globo adaptou o romance para a televisão e que muitas pessoas possam se encontrar com aquilo que imaginaram um dia quando leram a obra. O meu maior desejo é que pessoas menos favorecidas (entenda-se: analfabetos ou sem acesso a uma boa cultura) possam estar compartilhando em sua telinha um dos maiores romances (e intrigantes) da história da literatura brasileira.

Como a época em que foi escrito o romance foi o Realismo, Machado de Assis procurou mostrar (eu até arriscaria dizer "aprofundar") a teoria das neuroses e os problemas da realidade brasileira, como uma suposta traição. Além de ser narrado em primeira pessoa e manter um constante diálogo com o leitor, Machado nos deixa limitado apenas à visão de Bentinho. Tudo o que está escrito lá foi a maneira como ele sentiu, viu ou interpretou os fatos. Seria mais ou menos como pisar em um chão não muito seguro, sem a certeza de que ele vai ou não aguentar o seu peso. Interpretar uma coisa ou outra, isso vai depender da visão de cada um ao ler a obra, mas ela só nos mostra o ponto de vista do garoto/homem obcecado e morto de ciúmes por sua amada Capitu.

No entanto, agora já colocando o meu ponto de vista sobre a obra, mesmo Bentinho sendo doente de ciúmes, Capitu era muito viva e esperta, como se fosse alguém além de seu tempo. As esconfianças de Bentinho parecem fazer algum sentido para mim em algum momento da obra (será que eu me identifico muito com ele e sou um igual neurótico? Ah, fico contente que não serei o único neste planeta!) que Capitu possa ter vivido algum romance com Escobar. Se a obra mostra as neuroses da época (época até mesmo que supostamente Freud começou a desenvolver suas pesquisas), ela também nos mostra o lado "realista" da sociedade. Enfim, Machado é um gênio ao desenvolver uma obra que tende para esses dois lados e sem mostrar um final concreto.

Parabéns a Globo por fazer essa adaptação e nos livrar momentaneamente de seus Big Brothers. Os telespectadores, como agradecimento, poderiam dar mais audiência para os raros momentos culturais da emissora do que momentos da "casa mais vigiada do Brasil".


*imagem extraída da internet.
**Referência bibliográfica:
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: FTD, 1999.

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