quarta-feira, 29 de julho de 2009

As revoltas do meu tempo de jovem*


Dizem que muitas coisas melhoraram hoje em dia, que não estamos mais em uma ditadura, que não temos (por enquanto) uma guerra mundial, conseguimos mais direitos, etc. Mas, como conheço o passado apenas por livros ou por histórias contadas pelos mais velhos, não acredito que as coisas tenham melhorado tanto. Digo que ficamos na estaca zero ou que as coisas sim estão piores do que no passado. Serei mais específico: falo da geração de jovens da minha idade nos tempos atuais.

Assistindo ontem um pouco de TV, vi passar uma reportagem sobre gangues de Brasília. É uma coisa que assusta a todos nós. Para onde estamos caminhando com tudo isso? Disputas por territórios, egos ou simplesmente desejo de matar. Eu posso afirmar que hoje eu não ando com tranquilidade por aí, pois posso ser vítima sem motivo algum. Acredito sim que havia violência tão cruel no passado, mas com algum motivo... (não que isso justifique o fator violência). No entanto, hoje se morre por nada.

Jovens sem educação, jovens na pobreza e na falta de cultura (abro um parêntese para dizer que todos temos cultura, mas a que me refiro é uma cultura que leva à reflexão e, me perdoem os jovens de hoje, mas eles não tem quase nada de cultura que leve à reflexão). Está na moda escutar certas bandinhas de forró e axé que simplesmente têm letras de duplo sentido que não valorizam o respeito ao próximo e nem se preocupam com isso. E isso está na cabeça e na mente do jovem de hoje. Para ele, é só aquilo que existe e pronto.

Fui ao show de 49 anos de Brasília e fiquei horrorizado com muitas coisas que vi. Jovens brigando uns com os outros por nada, espancando, esfaqueando... Xingando artistas e usando drogas. Aliás, é bem modinha da geração atual usar algum tipo de droga para se aparecer para os outros. Muitos usam também como fuga dos problemas, mas acontece que o efeito da droga passa e os problemas ainda continuam lá. Ninguém se arrisca a ir pelo método mais difícil, que é o do diálogo e o de enfrentar as situações. Estão se transformando em seres irracionais - não é porque eu estou dizendo, mas sim pelas próprias atitudes deles que confirmam estas palavras.

Se o estado não tem um bom governante, a população desanda. E muito. É só usar o DF como exemplo. Um certo governadorzinho aí, anos atrás, dava lotes de graça pra qualquer um. Claro, devemos dar oportunidade a todos. Mas daí ganhar lotes no meio do nada, sem escolas, sem cultura, sem lazer decente... o que acaba virando? Um lugar de extrema pobreza, escola ideal para ladrões, assassinos, etc. O povo que mora nesses lugares parece não se interessar pela educação, tanto que em pesquisas populares, eles cobram coisas do tipo "transporte", "policiamento", etc. Não cobram educação. Educação é um método mais difícil e exige esforço para que aconteça. Ela não surge de uma hora para outra como um asfalto ou uma ponte. Mas educação leva à reflexão, coisa que muitos de nossos políticos não estão nem um pouco interessados, pois isso pode ir contra eles.

O jovem de hoje acha que pode tudo. Coitado, mal sabe ele que não tem um pingo de maturidade para muitas coisas. O jovem tem filhos ainda novos (não que não possa ter, mas ninguém pensa no futuro da criança na questão da educação e da estrutura familiar), agridem professores e usam armas de fogo sem estranhamento algum. O que fazer pra resolver? Infelizmente, acho que a TV contribui muito, pois jovens se espelham em bandidos que são exaltados pela mídia. Ou seja, esses bandidos têm a história toda contada e dramatizada na telinha e as pessoas (falo daquelas que aceitam passivamente o que a TV coloca sem contestar nada e não são acostumadas a ler) acabam transformando todos eles em mitos, em heróis.

Estamos cada vez mais enjaulados, reclusos e calados diante da violência e da falta de educação de uma nova geração de jovens. Não se prega mais o valor da vida, do respeito ao próximo, até porque a escola hoje só ensina para passar no vestibular.

Até que dia sobreviveremos?

Quando é que deixaremos de sustentar políticos safados? (detalhe: os filhos deles não moram aqui e têm uma boa educação no exterior, obrigado)



*Apesar do título, quero especificar que ainda sou jovem, que desfruto de momentos e amadurecimentos que essa idade proporciona.

**Imagem antiga, mas só pra exemplificar.

domingo, 26 de julho de 2009

Um casamento diferente!



Olá, amigos! Antes de tudo, gostaria de parabenizar a todos escritores pelo nosso dia e dizer que o que colocamos no papel, além de exteriorizar os nossos sentimentos, faz toda a diferença para os que nos cercam. Que nós nunca desistamos de nos expressar como bem entendemos!

Por fim, depois de olhar no blog da minha ex-professora e no site do kibeloco, encontrei um vídeo super empolgante que o leitor deste blog pode ver acima. São 5 minutos empolgantes de um casamento diferente e até os mais conservadores conseguem se divertir, pois se afasta totalmente da monotonia e do nervosismo que muitos casamentos proporcionam. Engraçado, dançante e sem cair no ridículo ou na promiscuidade, o vídeo resgata um sentimento da criança que adormeceu em muitas almas por aí. Vídeo nota 10! Assim até eu gostaria de me casar!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O fenômeno Vanessão

Olá, amigos. Bem-vindos ao meu blog mutante! Por que mutante? Porque desejo rotular o menos possível o meu canto cultural, onde possa colocar além de poemas, pensamentos e mensagens, também humor, coisas sem futuro, dentre outras. Todos somos seres mutantes, mudando de opinião a cada segundo terrestre. E hoje, para romper sequências de postagens de poemas e pensamentos, coloco aqui o fenômeno da internet: Vanessão!

Vanessão é um travesti que se tornou um ícone pop graças à grande repercussão por meio da internet de sua confusão em uma delegacia. A confusão em que ela se meteu é super engraçada e, apesar de sabermos que ela não é nenhuma santinha, percebemos que a história que ela conta tem mais coerência do que a da "maricona" que fez programa com ela. Veja a sequência na ordem para você entender (caso não tenha visto antes):





Depois de esse vídeo ter feito muito sucesso pela internet e bordões terem virado mania como "o babado é certo", "finte reais", "pé de arvri", "para tua moto na BR", "isso é uma maricona!", "arrebentei a moto dele", entre outros, surgiram vários boatos de que Vanessão tinha morrido assassinada. No entanto, foram aparecendo vários outros vídeos da diva e muitos desconfiavam que não era ela, que era um fake, alguém tentando enganar a nova legião de fãs que estava surgindo pelo Brasil todo. Confira mais um vídeo, sendo que nesse ela aparece mais agressiva.





Muitos duvidavam que esta do vídeo acima seria a diva Vanessão e os boatos aumentavam cada vez mais sobra a sua morte. Tristeza geral para a legião de fãs que se formava a cada dia da travesti de Ji-Paraná em Rondônia. Porém, um terceiro vídeo surgiu e fez com que muitas pessoas ficassem com uma pulga atrás da orelha e ela aparece como Patrícia:





Por fim, para solucionar o caso se Vanessão morreu ou não, a verdade sobre os vídeos e o impacto cultural que a diva teve sobre o país por meio da internet, só o repórter que a entrevistou, o repórter Farofino, para esclarecer todas as dúvidas:





E aqui está a minha homenagem a essa moça que prefere ser chamada de moça. Conclusão: a diva está viva para a nossa alegria e ainda promete momentos de muito humor e novos bordões que farão sucesso. E, por cima, fazendo programas embaixo de pés de árvore com falsos héteros.


Para saber mais sobre a diva, acesse essas comunidades no orkut:

http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?rl=cpp&cmm=60012549
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=44123586
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=66452733

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Dia do amigo


AMIGO


Amigo é um ser especial e essencial em nossas vidas...
Quem não tem ou não quer ter um amigo?
Se você não tem, acaba se tornando um frustrado
Mas se você tem, descobre um dos segredos para a felicidade
Amigo pra conversar
Amigo pra chorar
Amigo pra concordar em tudo
Amigo pra dar puxões de orelha
Amigo pra te apoiar e dar o ombro
Amigo pra combinar intensamente com você
Ser o lençol daquela triste tarde em que o mundo se torna azedo
Eu amo os meus amigos
São poucos, mas que são verdadeiros
Imperfeitos assim como eu, mas ainda assim amigos
Já tentaram me tirar os meus amigos
Coisas de pessoas invejosas
Mas, ao voltar para os braços dos meus amigos
Senti como se a amizade nunca tivesse acabado
A conexão entre amigos é forte e vence obstáculos
Pois mesmo longe, essa ligação é mantida
Amigos são a família que podemos escolher
Podem até fazer um papel melhor de família, quem sabe
Que Deus abençoe os meus amigos
Seres especiais para a minha sobrevivência!

(por: Roberto Borges, poeta e autor deste blog)


PALAVRA AMIGO
Autor: desconhecido

AMIGO,
palavra tão fácil
de se escrever
e pronunciar,
mas tão difícil de ter.
AMIGO,
é aquele que nos ampara
nos momentos difíceis,
é aquele que nos critica
nos erros e fraquezas,
é aquele que não engana,
que não elogia
para não explorar.
AMIGO,
é aquele que sente
a nossa ausência
e chora quando choramos.


*Homenagem aos poucos, porém, verdadeiros amigos!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A tela perdida



Olá, amigos. Dedico o meu post de hoje para falar sobre o meu amado desenho Saint Seiya, ou simplesmente "Cavaleiros do Zodíaco". Curto essa série desde 1995 e sempre procuro me informar sobre a história, colecionar mangás, DVDs, revistas, bonecos, etc. Depois da parte que eu introduzi aqui no blog e que comentei praticamente sobre toda a série (clique AQUI), venho falar dos universos paralelos que o autor Masami Kurumada tem criado e o rumo que a série vem seguindo.

Para começar, há alguns anos Kurumada resolveu contar um pouco mais da história de Saint Seiya e apresentou ao mundo três novos mangás: Episódio G, The Lost Canvas e Next Dimension. O Episódio G conta a história dos 12 cavaleiros de ouro contra o deus Cronos sete anos antes da história do Seiya, Shiryu, Hyoga, Shun e Ikki. Já a história The Lost Canvas foca em uma guerra santa que aconteceu há 243 anos antes da história de Seiya e mostra uma longa batalha contra Hades, o deus do mundo inferior. Por fim, o Next Dimension nos mostrou um outro ponto de vista dessa batalha contra Hades há 243 anos, mas, de uma hora para outra, transformou-se numa continuação da atual saga e se direciona para ser a batalha contra Zeus. De todos esses mangás, somente o Next Dimension é desenhado pelo próprio autor, Masami Kurumada. O Episódio G tem o traço detalhadíssimo (e muitas vezes super confuso) de Megumu Okada, e o The Lost Canvas tem o traço da Shiori Teshirogi (excelente por ser diferente e dinâmico). Basicamente, quero falar do The Lost Canvas ou A Tela Perdida.

Como eu já disse, The Lost Canvas mostra uma batalha contra o deus Hades há 243 anos da era atual, que é a era do Seiya e dos outros (fala clichê do anime hehehe). Três amigos, sendo dois entre eles irmãos, se vêem envolvidos por um destino trágico: Sasha é a reencarnação da deusa da sabedoria Athena; Tenma é o briguento cavaleiro de pégaso; por fim, Alone se torna hospedeiro do deus Hades. Alone e Sasha são irmãos e acabam se tornando inimigos mortais. Esta declarada a guerra para acabar com o mundo e Athena e seus cavaleiros tentarão impedir Hades antes que este termine de fazer sua pintura no céu e acabar com a humanidade. Essa pintura é chamada de The Lost Canvas.

Do ponto de vista da história, Kurumada evoluiu da água para o vinho. Como ele é o roteirista apenas, a sua maneira de conduzir os personagens ficou mais trabalhada, pois aqui vemos um pouco mais aprofundadas as personalidades dos cavaleiros, inclusive dos cavaleiros de ouro, personagens de extrema importância. Nessa história, eles interagem mais entre si, discutem opiniões e estratégias e mostram um lado mais sensível e humano. Nos mangás clássicos, os cavaleiros pareciam mais máquinas de combate que não param um segundo sequer para descansar ou se alimentar. O traço de Shiori Teshirogi contribui muito para o sucesso deste mangá, já que os cenários são melhor trabalhados, cheios de detalhes e vida, interagindo mais com o deslocamento dos personagens. Mesmo não imitando o traço de Kurumada, Shiori consegue passar muita emoção com os cavaleiros, seus golpes e todos os efeitos de batalha. Eles estão mais humanos e menos robotizados, diria eu. Não estou falando isso pra detonar o traço de Kurumada não, estou apenas comparando a evolução.

Com o sucesso do mangá de The Lost Canvas, logo veio o anime (desenho animado japonês). Cheio de detalhes, riqueza nos cenários e uma animação que nos faz sentir muita falta da primeira parte da Saga de Hades em anime. A produtora não é a mesma do desenho clássico e acho que isso contribuiu um pouco para a cara nova de Saint Seiya e na inovação do visual e da animação. As músicas de abertura e encerramento estão muito boas na minha opinião (no vídeo acima, temos a abertura do anime). Isso reflete uma ótima evolução em Cavaleiros do Zodíaco. Só espero que quando Kurumada der continuidade ao anime clássico, ele não economize esforços para dar à série o máximo de qualidade que ela merece, pois é uma obra prima!


(por: Roberto Borges, autor deste blog e fanático por Saint Seiya)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Dia do rock!



Dessa eu nem mesmo lembrava. Dia 13 de julho é o dia do rock! Estou menos roqueiro do que antes, mas sem deixar de lado o bom e velho rock. O meu gosto musical é mais eclético hoje em dia, e escuto muitos sons, que vão desde músicas clássicas até o dance, o pop, a MPB. Nada quem goste, e até que lê aqui já sabe, mas não sou fã de sertanejo, axé, funk e pagode. Ultimamente, por conta da influência dos animes, tenho escutado músicas japonesas. O meu preconceito se quebrou quando pude perceber a emoção sonora das bandas nipônicas e até arrisco a cantar junto: "dakishimeta kokoro no kosumo" (risos).

Mas como é dia de falar de rock, vou focar mais neste assunto. Acho que as primeiras bandas que eu devo ter escutado na vida foram Legião Urbana, Guns N Roses, Scorpions e Nazareth (Dream On lembra passagens da minha infância). Mas durante alguma parte da minha vida, músicas mais adultas não faziam parte do meu gosto. Vim desenvolver mais um gosto musical em épocas rebeldes da minha vida, quando passei a adotar um estilo clubber, que depois evoluiu para o rock (não é por nada não, mas graças a Deus hehehe). De lá pra cá, passei a frequentar shows de rock, a comprar camisetas, comprar CDs, baixar músicas e tudo mais. Só não deixei o cabelo crescer. Digamos que eu precisava de um estilo mais rebelde e largar um pouco a imagem de quietinho e bonzinho, coisa que eu não sou muito e nem faço questão de ser.

As bandas que mais me marcaram e eu escuto até hoje quantas vezes forem necessárias são: Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Kid Abelha, Capital Inicial, Iron Maiden, Metallica, Guns N Roses, Red Hot Chili Peppers, Nazareth, Scorpions, Aerosmith, Kiss, Black Sabbath, Soilwork, Nightwish, Whitin Temptation, Angra, Anathema, Manowar, Maná, Bon Jovi, OffSpring, Linkin Park, Pearl Jam, Dream Theater, Oasis, Queen, Eterna, Queensryche, U2, dentre outras.

Apesar do estilo mais eclético e da fuga de rótulos, o rock está estampado em minha alma. Vida longa ao bom e velho rock!

*No vídeo, Iron Maiden - Rainmaker!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Cale-se!



Olá, amigos. Para enriquecer culturalmente o meu blog, coloco uma música do nosso glorioso Chico Buarque. Chico sofreu com as imposições da época da ditadura militar, que censurava a tudo e a todos. Essa música representa bem a situação vivida na época. Claro que para poder ser avaliada e passar pela censura, a música teve de ser trabalhada em um sentido figurado. A começar pelo título "cálice" (cale-se, ou seja, você não tem direito de se expressar, de colocar a voz no mundo, emitir opiniões). Um grande enriquecimento para o meu blog!


CÁLICE
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque e Gilberto Gil


Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...(2x)

Como beber
Dessa bebida amarga
Tragar a dor
Engolir a labuta
Mesmo calada a boca
Resta o peito
Silêncio na cidade
Não se escuta
De que me vale
Ser filho da santa
Melhor seria
Ser filho da outra
Outra realidade
Menos morta
Tanta mentira
Tanta força bruta...

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...

Como é difícil
Acordar calado
Se na calada da noite
Eu me dano
Quero lançar
Um grito desumano
Que é uma maneira
De ser escutado
Esse silêncio todo
Me atordoa
Atordoado
Eu permaneço atento
Na arquibancada
Prá a qualquer momento
Ver emergir
O monstro da lagoa...

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...

De muito gorda
A porca já não anda
(Cálice!)
De muito usada
A faca já não corta
Como é difícil
Pai, abrir a porta
(Cálice!)
Essa palavra
Presa na garganta
Esse pileque
Homérico no mundo
De que adianta
Ter boa vontade
Mesmo calado o peito
Resta a cuca
Dos bêbados
Do centro da cidade...

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...

Talvez o mundo
Não seja pequeno
(Cálice!)
Nem seja a vida
Um fato consumado
(Cálice!)
Quero inventar
O meu próprio pecado
(Cálice!)
Quero morrer
Do meu próprio veneno
(Pai! Cálice!)
Quero perder de vez
Tua cabeça
(Cálice!)
Minha cabeça
Perder teu juízo
(Cálice!)
Quero cheirar fumaça
De óleo diesel
(Cálice!)
Me embriagar
Até que alguém me esqueça
(Cálice!)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Eu, etiqueta


EU, ETIQUETA


Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer principalmente.)
E nisto me comparo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
Meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.


(Carlos Drummond de Andrade)



Comentário meu: olá, amigos. É, somos influenciados o tempo inteiro pela moda, não adianta negar e falar que tem estilo próprio. Ou você copiou alguém ou você usa a roupa que as marcas querem que você vista. O que talvez seja ruim nisso? A falta de personalidade própria e o medo de ser excluído de algum grupo se você não se vestir de tal jeito. E realmente as pessoas tendem a excluir os diferentes.